Nascida em Roma, no qual em 1946 trouxe traços da sua cultura e personalidade para o Brasil e que, cinco anos depois, naturalizou-se brasileira, a arquiteta modernista Lina Bo Bardi possui muita história e obras belíssimas em sua bagagem da vida. Ela carrega consigo uma figura feminina forte e marcante na área de arquitetura, e, para ir de encontro ao mês dedicado às mulheres, estaremos falando nesta postagem um pouco mais sobre ela e suas principais obras.
Lina passou por diversos tempos conturbados desde a sua infância, em que teve que enfrentar, junto com a sua família, períodos de crises e guerras, sendo sempre considerada uma criança muito solitária. Ela conviveu intensamente com a guerra e todo o surgimento e ascensão do fascismo italiano. Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, ela teve o seu escritório bombardeado, porém se manteve firme para seguir em frente com a sua carreira, levando consigo suas características fortes de personalidade e de opinião.
Ao casar-se com Pietro Maria Bardi, em 1946, escolheram se mudar da Itália para o Brasil, os dois começaram a ter contato com vários artistas e expositores, e a partir deste instante que a arquiteta começou a ganhar espaço no seu novo país. Ela criou diversos projetos memoráveis perante a arquitetura, no qual fazem parte fielmente da cultura do Brasil.
As suas principais obras:
Museu de Arte de São Paulo - MASP
O museu foi idealizado por Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi. Originalmente, o MASP ficava localizado na rua 7 de Abril, no centro de São Paulo. As obras contidas nele foram adquiridas por Assis com preços baixos logo depois da Segunda Guerra Mundial. Depois, Pietro, o marido de Lina, começou a adquirir obras da sociedade local para exposição.
Por conta do crescimento de acervo, aconteceu a necessidade de ir em busca de um novo local para abrigar o museu. A partir daí que a arquiteta modernista entrou em ação. Ela foi convidada para encabeçar o projeto e o MASP mudou para a sua sede atual, a Avenida Paulista na cidade de São Paulo.
Com o objetivo de fazer um ambiente funcional e prático para as exposições, Lina projetou o primeiro museu moderno brasileiro com um vão livre, que mantém a vista para o centro da cidade e que também permite a integração do externo ao interno do museu. Além disso, nesse quesito, Lina conseguiu demonstrar um bom conhecimento em questões estruturais, para poder propor uma arquitetura assim, e sustentar a execução.
“Bom, para mim, pessoalmente, como arquiteta, arquitetura é estrutura. Quer dizer, a estrutura de um edifício é elevada ao nível da poesia, como parte da estética. Não há nenhuma diferença. Um arquiteto deve projetar a estrutura como projeta arquitetura, no sentido doméstico da palavra” - Lina Bo Bardi
A construção durou em média 10 anos e até hoje é considerada um dos espaços culturais mais icônicos do Brasil e é o principal projeto da arquiteta.
CASA DE VIDRO
A obra foi construída entre 1950 e 1951 e a casa foi projetada para ser a residência de Lina com seu marido. Localizada no bairro Morumbi, zona sul de São Paulo, foi a primeira casa projetada no bairro e também foi a primeira obra da arquiteta no país.
A casa de vidro é cercada por árvores e plantas, nos quais possui jardins internos, trazendo toda a sensibilidade e maestria que Lina teve ao projetar essa obra com o objetivo de manter a vegetação nativa aos arredores.
Além disso, a casa possui pilares estruturais soltos da fachada (fachada livre); a supressão da simples janela pela junção de painéis de vidro (janelas em fita); o pilotis (sistema de pilares que elevam o prédio do chão, deixando o solo livre); a planta baixa livre (paredes livres da estrutura); e uma estética das formas cúbicas e dos materiais concreto de vidro e aço.
Para melhor compreensão da Casa de Vidro, ela pode ser dividida em duas partes: a primeira que consta a biblioteca, cercada pelas aberturas de vidro, indo em conjunto com um pátio; a segunda são os quartos e a área de serviço.
Hoje em dia, a casa é sede do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi e é aberta para visitas do público.
SESC POMPEIA
O Sesc Pompeia também é considerado uma de suas principais obras e um dos melhores exemplos de brutalismo. É um espaço comunitário e de recreação com salas de aula, biblioteca, teatros, quadras esportivas, piscina, exposições, restaurantes, choperia, etc. É um local que reúne cultura para pessoas de diversas idades.
Uma das principais características do Sesc Pompeia é que tudo se interliga. Lina pensou em todos os detalhes para que cada área pudesse se conectar a outra, com o objetivo de mostrar ao público que ali tudo é possível, ganhando diversos significados.
A obra foi inaugurada em 1982 e em 2016 o trabalho de Lina recebeu o prêmio, do jornal The Guardian, de 6ª melhor construção de concreto do mundo.
A arquiteta Lina Bo Bardi veio a falecer em 1992, aos 77 anos. Porém, ela conseguiu deixar sua marca registrada na arquitetura brasileira e se transformou em um dos maiores ícones da área no país, em que sempre demonstrava projetos arquitetônicos com significados mais profundos e sociais.